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A importância da educação financeira infantil nas famílias do Distrito Federal

A Educação Financeira pode ser definida como “a ciência da gestão de dinheiro, nela é incorporada o estudo do dinheiro, assim como o gerenciamento e controle de recursos e a análise e gerenciamento de riscos e projetos. É uma área ampla já que afeta a vida das pessoas e das organizações” (GITMAN, 2006 apud SILVA et al. 2015, p. 2). Em outras palavras, educação financeira se resume a gerenciar o próprio dinheiro, aumentar a renda, reduzir despesas e administrar seus investimentos.

Autor: Vicente Manuel de Araújo Rayol
(Escrito com base no TCC apresentado em conjunto com Maria Alice Neffa Araujo Lage).

Orientador: Luis Spaziani

Educação financeira modifica nossos hábitos e nos ensina a controlar gastos e ganhos. Se cada um se conscientizar disso, verá mudanças não só em suas próprias vidas, mas também na vida econômica do país. Acredita-se que a educação financeira está diretamente ligada ao sucesso financeiro do indivíduo.

Pessoas bem-educadas financeiramente tendem a conseguir distribuir seus recursos de maneira mais segura do que aquelas que nunca estudaram o tema. Sem um conhecimento básico sobre finanças e investimentos, muitas pessoas tomam decisões erradas, e estas atitudes podem ter consequências que comprometem todo um futuro financeiro.

Para a maioria dos brasileiros, educação financeira é algo novo. Em geral, o brasileiro não tem o hábito de fazer um planejamento financeiro e nem de falar sobre dinheiro, muito menos com crianças. No site Educação Financeira, a autora Cássia D’Aquino explica:

No Brasil, infelizmente, a Educação Financeira não é parte do universo educacional familiar. Tampouco escolar. Assim, a criança não aprende a lidar com dinheiro nem em casa, nem na escola. As consequências deste fato são determinantes para uma vida de oscilações econômicas, com graves repercussões tanto na vida do cidadão, quanto na do país (D’AQUINO, 2019).

Historicamente, o Brasil teve mais de meio século de instabilidade econômica. Entre 1940 e 1994, o país mudou de moeda oito vezes. A economia era sufocada por uma inflação arrasadora e qualquer tentativa de planejamento financeiro tinha resultados desanimadores (SOUZA, 2012).

Ou seja, nesse cenário era impossível fazer planos de longo prazo quando o preço de tudo variava durante o dia: de manhã o produto tinha um preço e à tarde tinha outro, e assim por diante. Isso fez com que o brasileiro comum criasse o hábito de comprar em grande quantidade e fazer estoque, assim que recebia seu salário.

Somente a partir da década de 90, com a diminuição da inflação e a estabilidade da moeda, as pessoas começaram a perceber a importância de planejar, investir, organizar suas contas e se educar sobre finanças, a fim de atingir independência financeira.

Essa realidade teve impacto relevante sobre a cultura dos pais que criaram a atual geração de pais, uma vez que a perda diária do poder de compra afetava o desenvolvimento da ideia de fazer poupança. Para a atual geração de avós, era necessário estocar os alimentos tão logo o salário fosse recebido, pois não se saberia o preço de itens básicos já no dia seguinte e, além disso, a ideia de segurança estaria, então, atrelada à posse da casa própria e à certeza da aposentadoria.

Agora, é considerável o desafio da atual geração de pais brasileiros, verdadeiros desbravadores da educação financeira infantil, visto que poucos tiveram a experiência de serem ensinados formalmente nesse aspecto por seus pais: apesar de dispor de um manancial de informação sobre educação financeira, devem orientar seus filhos a empregar os recursos de modo eficiente e com vistas à constituição de reserva destinada à criação das próprias oportunidades de emprego, visando à conquista da liberdade financeira e da aposentadoria.

Pinheiro (2008) alerta para a importância de se trabalhar a educação financeira desde o início da vida do ser humano. As crianças podem aprender melhor sobre o valor do dinheiro e a seriedade de poupar e planejar gastos; os adolescentes podem aprender a ser mais independentes; os adultos podem planejar suas vidas para grandes eventos, como o sustento da família, a compra da casa própria e a aposentadoria. A educação contribui para que as famílias não caiam em armadilhas e nem entrem em dificuldades financeiras.

Muitos pais acreditam que dinheiro não é assunto para se discutir com crianças. Elas devem focar nos estudos, crescer e arrumar um bom emprego que forneça uma vida confortável. Todavia, educação financeira não é apenas falar com a criança sobre dinheiro, e sim ensiná-la a lidar com os desejos, os gastos e as poupanças em busca de uma vida melhor e feliz.

Ao ensinar uma criança a lidar com dinheiro desde pequena, ela terá maior chance de administrar sua vida quando for adulta. Vai saber guardar, gastar com responsabilidade e ser financeiramente independente.

Educação financeira leva a criança a diferenciar a necessidade de desejo, a entender que certos objetos têm valores diferenciados e que tudo faz parte de um processo onde algo é criado, usado e descartado.

Analisando o assunto, Cerbasi (2011), concluiu que “para cada fase da vida dos filhos cabe um método diferente, moldado de acordo com o que efetivamente desperta o interesse deles”, enfatiza que a responsabilidade de desenvolver a educação financeira é inalienável aos pais e recomenda:

Procure sempre lembrar que uma criança ou um adolescente não são adultos e, portanto, não pensam como adultos. Assim como seu corpo, também sua personalidade, suas ideias e seu raciocínio estão em contínua transformação. As diversas correntes da psicologia explicam que, a cada fase da vida da criança, os diferentes estímulos são interpretados de maneiras diferentes. As fontes de inspiração são diferentes para cada idade. (CERBASI, 2011)

Para facilitar aos pais o entendimento dessa ideia, o autor supracitado elaborou o seguinte quadro visando orientá-los quanto a sua função de educadores financeiros dos filhos, considerando primordialmente as principais características comportamentais destes, conforme o avanço da idade:

Tabela 1: Função dos pais enquanto educadores financeiros do filho, conforme a faixa etária.

Idade da criançaPrincipais características comportamentaisPapel dos pais quanto à educação financeira  
0 a 2 anosOs desejos não estão associados ao dinheiro, mas o interesse pelas atitudes dos pais é intenso e crescente.Dar o exemplo através de suas atitudes, principalmente seguindo com disciplina rotinas do lar, que serão certamente copiadas pelos filhos e os tornarão mais disciplinados.  
3 a 4 anosA realização de desejos é associada ao ato de comprar, que depende essencialmente da vontade e do dinheiro dos pais.Evitar banalizar o consumo e estabelecer regras para o uso do dinheiro, como limites orçamentários e datas para celebrações e presentes.  
5 a 6 anosPercepção de que é possível interagir com estranhos sem a intervenção de adultos.Cultivar a independência, permitir aos filhos que interajam com vendedores e manipulem dinheiro em compras pequenas.  
7 a 10 anosPercepção dos papéis sociais e quantificação de valores, com aprendizado da matemática.Conversar sobre dinheiro, trabalho, sustento da família, objetivo dos estudos e escolha de profissões.  
11 a 14 anosPercepção das responsabilidades e primeiros conflitos típicos da adolescência.Cultivar a autonomia, com a prática da mesada ou da oferta de recursos de uso livre pelos filhos. Incluir os filhos nas tarefas de organização financeira familiar.  
Acima de 15 anosNecessidade de assumir papéis típicos dos adultos.Conversar sobre temas relacionados à administração pessoal, uso de bancos, incentivos maiores à formação de poupança e desejos versus investimentos necessários.
Fonte: Cerbasi (2011).

Objetivo da pesquisa:

Tendo o cenário brasileiro em mente, o objetivo geral da pesquisa realizada foi investigar de que forma as famílias do Distrito Federal aplicam a educação financeira infantil, no intuito de conferir aos seus jovens maiores conhecimentos sobre o assunto, levando em consideração o aspecto econômico da renda familiar, para verificar se há diferenças de hábitos e práticas entre famílias de renda baixa e de renda alta.

Para atingir esse objetivo geral, foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos:

Verificar o nível geral de organização financeira das famílias;

Identificar a quem os pais atribuem a responsabilidade sobre a educação financeira infantil;

Pesquisar se as famílias do Distrito Federal têm aplicado práticas de educação financeira infantil;

Verificar, quando levada em consideração o aspecto econômico da renda familiar, se há diferenças de hábitos e práticas entre famílias de renda baixa e de renda alta.

Metodologia utilizada:

Criou-se um pequeno questionário de dez questões, pela plataforma Google Forms, que em seguida foi distribuído por e-mail e aplicativos de mensagens via telefone celular para famílias de todas as rendas durante a semana do dia 19 a 27 de fevereiro de 2019. Foram recebidas 70 respostas. Com estas, foram identificados vários aspectos interessantes sobre como a família brasileira, em especial a do Distrito Federal, lida com as práticas de educação financeira infantil e o tema dinheiro.

Na análise da pesquisa, foi necessário excluir as famílias que tinham filhos menores de 4 anos e maiores de 14. Assim, restaram 42 famílias para análise. Destas 42 famílias, foram divididos os grupos por renda, ou seja, 16 famílias de baixa renda (considerada a renda familiar até 05 salários mínimos) e 26 famílias de média/alta renda (superior a cinco salários mínimos). Feita essa organização, procedeu-se à análise das respostas aos questionários aplicados.

Principais resultados alcançados e conclusões:

A principal descoberta em relação à organização familiar das finanças reside no fato de que 85% das famílias de renda baixa e 55% das famílias de renda média e alta vivem uma realidade de endividamento ou impossibilidade de constituir reservas para o futuro. Esse percentual elevado para as famílias de baixa renda pode ser explicado pela escassez de recursos, que são empregados para o pagamento das despesas de subsistência, como alimentação, moradia, saúde e transporte.

De toda forma, essas informações apontam para a necessidade de estímulos ao aprendizado sobre finanças no âmbito familiar em geral, não somente das crianças, uma vez que não há como os pais ensinarem aos filhos algo que eles mesmos não dominam.

Independentemente da situação financeira familiar, os participantes da pesquisa relatam conversar frequentemente com seus filhos sobre dinheiro. As famílias de baixa renda, apesar de, individualmente, não conseguirem constituir reservas para o futuro, reportam com maior frequência abordar o assunto de maneira mais estruturada com as crianças, ao ponto de incluí-las nos momentos de planejamento dos objetivos financeiros familiares.

A literatura explica que é possível que as famílias de renda mais elevada abordem o assunto com os filhos de modo menos formal devido à escassez de tempo reservado para convívio familiar, trocado pela busca incessante de aumento do padrão de vida e de consumo. Na opinião dos autores pesquisados esse fato é alarmante, pois nenhum sucesso profissional compensa o fracasso no lar. Fracassar, nesse sentido, seria falhar em criar filhos capacitados a viver uma vida financeiramente equilibrada, e permitir que cheguem à vida adulta com uma visão de mundo consumista e imediatista.

Os relatos voluntários coletados durante a pesquisa reforçam que a harmonia familiar no tratamento das questões financeiras é fator essencial para a superação de eventuais crises e manutenção da existência da família.

As pessoas que responderam aos questionários concordam que a responsabilidade de ensinar as crianças sobre finanças é uma combinação entre o que é ensinado em casa e nas escolas. A literatura pesquisada posiciona essa responsabilidade como precípua dos pais, devendo a escola atuar como parceira, e despender esforços para agregar conhecimentos dessa área ao ensino em geral. Considerando-se que os autores pesquisados relatam que essa parceria ainda está em estado de desenvolvimento inicial no Brasil, seria interessante que futuras pesquisas acadêmicas se aprofundassem nas iniciativas das escolas, especialmente em parceria com os pais de alunos e a comunidade vizinha.

Os pais entrevistados voluntariamente expressaram o desejo de que a escola seja mais presente e parceira nessas questões, ressalvando, contudo, a necessidade de adequar as atividades à idade e à fase de desenvolvimento das crianças, sob pena de prejudicar em vez de ajudar às famílias no ensino do gerenciamento de recursos.

No que diz respeito às ferramentas tradicionalmente utilizadas para ensinar crianças acerca de educação financeira, tanto o cofrinho quanto a mesada são amplamente utilizados e, em geral, bem vistos como eficientes. As limitações e dificuldades do emprego das ferramentas, por parte das crianças, podem ser reputadas ao próprio processo de aprendizado e desenvolvimento. Pode-se dizer que é até melhor que haja dificuldade no começo da vida, no momento de errar e aprender, do que durante a vida adulta, quando os erros têm consequências mais severas. Se, de acordo com a pesquisa, mesmo os adultos têm dificuldades de lidar com suas finanças, nada mais normal que as crianças também tenham, ao menos temporariamente. Sugere-se que trabalhos acadêmicos futuros se aprofundem na disseminação de outras ferramentas utilizadas com as crianças para estimular aprendizado sobre finanças.

O comportamento das crianças ao acompanhar seus pais durante os momentos de compra evidencia se a prática condiz com o discurso, isto é, se o comportamento dos pequenos no momento de compra condiz com os relatos de que os pais efetivamente se esforçam para ensinar seus filhos sobre o gerenciamento de recursos no dia-a-dia. De uma maneira geral, isso se mostrou verdadeiro.

Apenas uma pequena parcela das famílias de renda mais elevada relatou que seus filhos demonstram frustração diante da impossibilidade de ganhar algo que pediram. Esse percentual de frustração das crianças das famílias de renda média e alta reflete a quantidade e qualidade menores de tempo dispendido junto a essas crianças para educá-las no que tange a finanças, corroborando os achados da pesquisa. De toda a forma, 80% dos pais das crianças desta classe relataram que seus filhos se comportam adequadamente no momento da compra.

Além disso, metade dos pais das crianças de baixa renda relata que seus filhos, além de se comportarem de maneira adequada, levam consigo dinheiro poupado seja de mesada ou depositado nos cofrinhos para realizar a compra do que quiserem, sem criar problemas. Tal fato evidencia resultados práticos dos esforços diligentes das famílias alocadas nessa classe para ensiná-los sobre finanças.

Conforme visto, a educação financeira de crianças é uma responsabilidade fundamental da família, a ser dividida ainda mais com a escola, ferramenta essencial para o desenvolvimento de adultos capazes de se conduzir de maneira consciente, equilibrada e feliz. Em última instância, cidadãos financeiramente educados têm maiores chances de atingir a prosperidade e contribuir com o desenvolvimento econômico dos locais onde habitam.

Como sugestão para futuros trabalhos acadêmicos, é de suma importância a continuidade de novas pesquisas que possam abordar a relevância da educação financeira nas escolas primárias e secundárias para o desenvolvimento da criança e adolescente, a parceria entre essas instituições e os familiares, tanto no que tange os princípios quanto práticas voltadas ao desenvolvimento do assunto.

REFERÊNCIAS

CERBASI, G.            Pais inteligentes enriquecem seus filhos / Gustavo Cerbasi; Rio de Janeiro: Sextante, 2011. Disponível em: https://www.amazon.com.br/Pais-inteligentes-enriquecem-seus-filhos-ebook/dp/B00A3D9618/ref=sr_1_fkmrnull_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=2VF87NIBQLA09&keywords=pais+inteligentes+enriquecem+seus+filhos&qid=1551105089&s=digital-text&sprefix=pais+in%2Caps%2C535&sr=1-1-fkmrnull . Acesso em: 25 fev. 2019.

D’AQUINO, Cassia. Educação Financeira. Disponível em: http://educacaofinanceira.com.br/index.php/escolas/conteudo/513. Acesso em 25 mar. 2019.

PINHEIRO, R. P. Fundos de Pensão e Mercado de Capitais. São Paulo: Peixoto Neto, 2008.

SILVA, Breno Henrique Prado et al. A essencialidade da educação financeira na vida do gestor financeiro: uma análise com profissionais da Macrorregião de Varginha-MG. Trabalho de Conclusão de Curso; (Graduação em Administração Habilitação Em Comércio Exterior) – Centro Universitário do Sul de Minas, 2015. Disponível em: https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos16/502499.pdf. Acesso em 11 mar. 2019.

SOUZA, Débora Patrícia de. A Importância da Educação Financeira Infantil. Monografia apresentada ao curso de Ciências Contábeis, da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas, do Centro Universitário Newton Paiva. Belo Horizonte, Junho 2012.

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