O que é Edtech? Entenda de uma vez por todas

O Brasil possui diversas dificuldades na área da educação e muitas oportunidades para novas soluções. Nesse cenário, as novas formas de ensino promovidas pelas startups têm grande impacto. Com 108 edtechs, 2013 fechou com um boom na criação de startups brasileiras, segundo o Distrito Edtech Report. O mapeamento mais recente aponta que já são 434 edtechs nacionais. Mas, espere só um minuto: o que são, exatamente, essas edtechs? Qual tem sido o impacto dessa nova era da educação? É mais em conta? Por que ela existe? Do que se alimenta? Calma! A intenção desta matéria é justamente mostrar para você o maior número de detalhes possível acerca do que é esse mercado e tirar todas as dúvidas, de uma vez por todas.

Para entender melhor do que se trata uma edtech, nossa equipe conversou com Vinicius Gusmão, CEO e co-fundador da MedRoom — que usa conceitos de gamificação e Realidade Virtual (VR) no ensino de medicina e treinamentos em saúde e permite ver com perfeição a estrutura do corpo, observar os órgãos individualmente e a relação entre os sistemas em diferentes amplitudes — e com Jan Krutzinna, CEO e fundador da ChatClass, antiga EduSim, uma startup focada em reinventar o ensino de inglês nas escolas do país com uma inteligência artificial da startup interage com os alunos de ensino fundamental e médio por meio de mensagens e áudios do WhatsApp.

Bom, indo primeiro na raiz da coisa, o uso mais comum de “edtech” é como abreviação de “education technology”, ou tecnologia educacional, mesmo: são soluções que linkam tecnologia com a jornada dos stakeholders da educação: professores, alunos, administradores. Isso pode variar de um aplicativo simples para o aluno do ensino fundamental aprender matemática ou sistema complexo de gestão de dados para administradores de instituições de ensino. Também podemos definir uma edtech como uma startup, uma empresa nova, que geralmente atua com tecnologia no setor da educação. No entanto, isso não significa que todas as edtechs trabalhem na área do ensino e da aprendizagem, elas podem ser focadas no marketing, na administração e nas operações em geral no contexto de instituições educacionais.

Tecnologia educacional

No entanto, além de compreender do que se trata, uma coisa que também não fica muito clara é a razão pela qual as edtechs estão aí. Segundo Vinicius, costuma-se dizer que o sistema de ensino está falido, que fracassou. “Mas isso é realmente verdade? O sistema atual consegue formar bilhões de alunos todos os anos em vários lugares do mundo, o que não parece característica de um sistema falido. A grande questão é que existe muito espaço para melhorar, aumentar o acesso, garantir qualidade, e nesse sentido a educação brasileira tem muito espaço para melhoria”, pondera o executivo.

Em relação a isso, Jan acrescenta que a educação talvez seja um dos setores mais tradicionais que existem, uma vez que a escola, por lidar com crianças e famílias, não é um lugar em que se pode experimentar diferentes coisas e cometer muitos erros. Entretanto, o executivo aponta que a tecnologia hoje está redefinindo grande parte de nossas vidas, do mundo, da economia e até mesmo da educação. Com isso, ele vê a tecnologia como uma grande oportunidade de melhorar o acesso e a qualidade do ensino. “A realidade é que a população precisa cada vez mais aprender, mas existe uma lacuna no número de professores disponíveis e também uma desvalorização da profissão. Acho que a digitalização pode ajudar a preencher essa lacuna e também a auxiliar os professores a trabalharem com mais impacto”.

O CEO da ChatClass aponta o Brasil como um país grande, onde existe muito capital humano, com muito potencial, e os brasileiros têm vontade de aprender e possuem ambição para avançar na vida, mas o sistema escolar tem dificuldade em entregar um ensino para atender essa demanda da população. Os testes internacionais, como PISA, infelizmente, evidenciam que o sistema do Brasil precisa melhorar.

O cenário atual apontado por Jan é um país que precisa investir e melhorar a educação por causa da constante evolução da economia e, com isso, o crescimento da demanda de pessoas com mais treinamento. Para ele, a tecnologia atualmente transforma indústrias não só no Brasil, mas em todo o mundo, e é importante que essa melhoria na educação aconteça para todos, e não apenas para os privilegiados.

Analisando esse cenário, Vinicius declara que a tecnologia viabiliza experiências que não seriam possíveis de outra forma, como gerenciar milhares de alunos, promover ensino adaptativo para cada um, visitar e passar por experiências que não são de fácil acesso ou que não são possíveis na vida real. Para ele, há uma série de fatores que a tecnologia potencializa e outros tantos que ela torna possível. “Com tecnologia na educação podemos levar a humanidade para outros níveis de discussão. Apesar disso, existe muita discussão sobre até onde a tecnologia chega e até onde ela deveria chegar”, acrescenta. Em outras palavras, os objetivos de cada uma variam bastante, pode-se querer melhorar gestão, processos ou até mesmo o conteúdo em si.

Edtech é mais em conta?

Quando se fala em edtech, uma das primeiras dúvidas que surgem é o preço. Segundo a linha de pensamento de Jan, a princípio, uma solução em tecnologia pode ser mais barata do que uma solução tradicional, como são com os livros, simplesmente por conta do baixo custo que a virtualização traz. “A tecnologia consegue entregar um conteúdo mais personalizado e acessível, já que o preço é menor comparado com os métodos tradicionais. Com tecnologias de inteligência artificial, por exemplo, conseguimos baixar o custo dos feedbacks e permitir que todo aluno tenha a atenção pedagógica que merece”, disserta, já considerando que o aluno tenha um equipamento em casa (notebook, smartphone ou tablet).

Se por um lado, Jan acredita que a educação por meio da tecnologia fornece mais resultado em custo-benefício, para Vinicius não é exatamente assim, pois algumas demandam investimento inicial mais alto. mas que no tempo se mostra diluído por ter menos problemas com gestão de pessoas, uso de insumos etc. O CEO afirma que o importante é ter clareza das expectativas, ou seja, saber o porquê de adquirir uma solução de edtech, se ela resolve um problema real e quais as vantagens que sua organização ou seus alunos terão frente à novidade.

O contraponto

No entanto, mesmo os CEOs de Edtech precisam admitir que esse novo mercado não é perfeito, e também conta com seus prós e contras. Para Vinicius Gusmão, os contrapontos variam de edtech para edtech, e as mais ligadas com o conteúdo em si precisam ter uma atenção especial com curadoria e proposta de valor.

Sendo assim, o CEO e co-fundador da MedRoom atribui à falta de interação a principal desvantagem da edtech: “Algumas tecnologias são muito ‘solitárias’, como as plataformas EAD, o que pode limitar a interação entre as pessoas, critério extremamente importante para a formação. Plataforma de aprendizagem com inteligência artificial se mostram muito promissoras para aprendermos hard skills, mas não são tão boas para desenvolvermos soft skills, por exemplo”, afirma o executivo.

Por sua vez, Jan diz que as principais desvantagens de se aprender por meio das edtechs, são os “desafios de motivação”. Ele explica que isso acontece porque a maioria programas 100% online tem dificuldades com retenção e engajamento dos alunos, já que para a grande maioria das pessoas, é difícil estudar sozinho em casa.

Sendo assim, as soluções trabalhadas dentro das instituições (escolas e faculdades) muitas vezes acabam não sendo tão redondas e tentar aprender através delas pode ser difícil. Para o executivo, as equipes de tecnologia do mundo de startups deveriam pesquisar a fundo sobre a realidade da sala de aula, justamente para otimizar as abordagens.

O futuro das Edtechs

Certo. Então já descobrimos o que são as edtechs, o porquê da atenção que esse mercado tem conquistado e até mesmo as desvantagens que envolvem. No entanto, quando se tem em mente estudar por smartphone — e até mesmo por WhatsApp, como já vem acontecendo —, chega a aparecer um estranhamento em relação ao que esperar. A tecnologia avança a passos muito largos, afinal. Então quer dizer que haverá médicos formados por meio do WhatsApp no futuro, ou coisa parecida?

“Na minha visão, isso já pode acontecer hoje”, aponta Jan. Ele reitera que existem profissões, como médicos, que demandam práticas de aspecto físico/manual como fazer uma cirurgia, que não é viável fazer pelo smartphone hoje e talvez nunca seja, mas que o smartphone pode virar um orientador universal capaz de guiar e auxiliar no aprendizado de assuntos complexos, até para a medicina. “Então, nossa visão é criar essas assistentes digitais para aprendizagem dentro do smartphone, que pode ser um tutor para qualquer matéria que se desejar aprender”, declara.

Em contrapartida, questionado a respeito dessa ambição das edtechs, Vinicius Gusmão aposta num cenário com múltiplas frentes, presenciais, a distância, virtuais e reais. Isso porque, segundo ele, existem diferentes tipos de mensagem, cada um com uma necessidade de comunicação diferente, que necessitam de mídias diferentes. “O melhor é tornar todas as mídias acessíveis e integradas, não forçar a mensagem para uma mídia que não a comporta. É como adaptações de livros para filmes: o livro foi escrito para ser uma experiência de leitura e quando você o transporta para dentro do filme ele não funciona da mesma forma”, conclui.

Jan também acredita no ensino híbrido, que combina as ferramentas digitais com uma experiência presencial, em que cada um é otimizado para o que pode entregar melhor. Para ele, ambos são vantajosos: presencialmente, os alunos ficam mais motivados e existem diversos benefícios pedagógicos, enquanto a assistente digital pode trazer customização baseada em dados e feedbacks personalizados.

Para conquistar a ascensão, o nicho das edtechs precisa resolver duas coisas, segundo Jan: primeiro, ter um produto que se adequa com as necessidades do mercado e, segundo, ter uma boa distribuição para chegar aos usuários. Ele acrescenta que, no final das contas, as grandes editoras e o sistema de ensino mantêm o poder, já que têm uma força de distribuição grande, fechando contratos com ticket alto com escolas e parceiros. Elas não possuem sistema digital avançado, mas mesmo assim conseguem dominar o mercado, apenas com livros e serviços.

“Nós estamos trabalhando por uma perspectiva de ecossistema, queremos ajudar o aluno e o professor aonde eles estiverem: por isso temos soluções em parceria com sistemas de ensino, com escolas de idiomas, com escolas regulares e também para os alunos que queiram aprender conosco. Somente dessa forma conseguimos endereçar o problema da distribuição e do produto para alcançar o máximo de usuários”, finaliza o CEO da ChatClass.

Escrito por Nathan Vieira
FONTE: https://canaltech.com.br/inovacao/edtech-o-que-e-159758/

Educação e tecnologia: por que grandes empresários querem investir nas ‘edtechs’

Desde que decidiu vender o Orlando City, o bilionário Flávio Augusto da Silva afirmou que seus investimentos seriam voltados para o setor de educação. E a promessa está sendo cumprida. Em entrevista exclusiva à CNN, o empresário confirmou que pretende investir cerca de R$ 1 bilhão no setor de educação, nos próximos três anos. Na última semana, Flávio anunciou um aporte para a aquisição de 100% da Conquer, escola de negócios da nova economia. 

“A Conquer é uma empresa nova que, em 4 anos, cresceu do zero para um faturamento de R$ 35 milhões, no último ano. Essa aquisição faz parte de uma estratégia de multiplataforma. Vamos ter conteúdos voltados para a realidade do mercado de trabalho”, afirma Flávio.

O presidente da Wiser Educação quer fugir dos modelos tradicionais e planeja investir na oferta de cursos mais práticos. “Meu objetivo é melhorar a empregabilidade, a carreira profissional, o salário e as condições para que todos tenham a possibilidade de empreender e gerar empregos.”

Para Flávio, o interesse das pessoas em conteúdos da área de negócios tem crescido muito nas redes sociais, e isso traz à tona uma oportunidade para o desenvolvimento da atividade econômica do país. No entanto, o empresário ressalta que, para isso acontecer, é preciso que as escolas não fiquem paradas no ensino convencional: “O ensino tradicional é muito conteudista, e a vida não é isso. Precisamos de mais ações que possam formar o aluno para a realidade, como finanças pessoais e oratória, por exemplo.”

No momento, segundo Flávio, 40 empresas estão no radar da Wiser. Dessas, 17 já assinaram um contrato de confidencialidade e duas devem ser incorporadas nos próximos meses.

Questionado sobre o futuro da educação, em especial em relação à presença da tecnologia no setor, o empresário é direto: “Agora, as ações on-line são feitas com mais naturalidade. É um caminho sem volta. E as edtechs fazem parte de um modelo educacional tecnológico, com recursos pedagógicos diferentes do modelo presencial e com larga escala. Se feito com qualidade, esse modelo pode desenvolver ainda mais a aprendizagem dos alunos.”

Mesmo assim, Flávio não acredita no fim do modelo presencial: “Esse tipo de ensino não vai morrer, ele vai ter o seu espaço. Porém, o on-line veio para ficar. A sociedade não vai voltar a ser exatamente como era antes em relação ao comportamento do consumidor. Haverá um equilíbrio, mas o digital pode ir muito mais longe. Vamos ter, em breve, mais de 1 milhão de alunos matriculados em nossa plataforma.”

Edtech financeira

Outro empresário que está apostando alto nas edtechs é Thiago Nigro, dono do Grupo Primo. No primeiro semestre, Nigro lançou uma plataforma de conteúdos sobre finanças e investimentos, que funciona no modelo de assinatura. O grupo está investindo R$ 20 milhões no projeto, chamado de Finclass. No primeiro mês de funcionamento, o aplicativo já teve mais de 850 mil visualizações, e a aula de criptomoeda é a mais assistida.

“O aplicativo é um encontro de três pilares: reunião dos maiores do mundo em finanças, desenvolvimento de um design profissional e cinematográfico e o uso da mais avançada tecnologia”, elenca o empresário.  

Thiago Nigro também é um crítico do modelo tradicional usado nas escolas: “No Brasil, as maiores faculdades têm cursos que não estão alinhados com as tendências de mercado. Muitas instituições preparam os alunos para o hoje, mas sem preocupação com o amanhã. A educação deveria olhar para as tendências e não apenas para a atualidade. O aluno já se forma desatualizado.”

Com mais de 5 milhões de seguidores no Instagram, Nigro entende que o retorno de estudar no modelo atual está cada vez menor: “você investe em educação no modelo atual e não recebe o dinheiro de volta, porque não está realmente preparado a realidade do mercado.”

A edtech de Nigro tem cursos tanto para quem quer dar os primeiros passos em educação financeira, com conteúdos voltados para escolha de ação, carteira, perfil investidor e criptomoeda, como para quem já tem conhecimento mais avançado, com cursos sobre equity e gestão financeira.

Questionado sobre qual o motivo do alto investimento em educação, o empresário é enfático: “Porque existe uma defasagem educacional gigante no Brasil, e a educação financeira é um problema sem solução. Apenas 1% das pessoas se aposentam com a mesma qualidade de vida que tiveram durante o período produtivo. Hoje, acredito que eu sou uma pessoa que pode ajudar a mudar essa realidade, pois eu vivi todos os lados do dinheiro: já fiquei endividado, já precisei contar centavos, já ganhei, perdi, ganhei de novo. Por essa razão, estou no ecossistema certo para engajar as pessoas”

Fonte: CNN Brasil (Acessado em 28/06/2021)
Link: https://bit.ly/3h7mwpH